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Tradutor do Blog do Folador

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Crítica: 'Planeta dos macacos'


Corre sério risco aquele que ousa mexer em tradições cinematográficas, refilmando-as, por exemplo; corre igual risco, mesmo que munido das melhores intenções, aquele que decide explicar, num filme caro, claramente trabalhoso e permeado de efeitos visuais, a gênese de uma "série" como Planeta dos macacos.

A duvidosa eficácia das "prequel" (horroroso neologismo hollywoodiano para filmes que explicam as origens de outros filmes) não parece ter assustado os produtores e roteiristas Rick Jaffa e Amanda Silver (nem a Fox, dona do projeto). Planeta dos Macacos: A Origem joga com referências aos outros cinco longas (sobretudo o primeiro de 68, com Charlton Heston), um roteiro simples, embora falho e claramente remendado na montagem, e direção esforçada para realizar uma competente ficção científica.



Como explicar que símios falantes dominaram o mundo e escravizaram os humanos sobreviventes? Jaffa e Silver oferecem cardápio variado: amor, ganância, obstinação, curiosidade e, pasmem, instinto de sobrevivência. O cientista (mal) interpretado por James Franco, trabalha para um gigante da indústria farmacêutica e testa em chimpanzés substância que imagina ser a cura para o Mal de Alzheimer. Sua descoberta pode ajudar muita gente, a começar pelo próprio pai, um professor de música senil (John Lithgow), além de potencialmente encher os cofres da indústria. Mal sabe ele que esta mesma descoberta arruinará a espécie humana e a povoará a terra de símios falantes e durões.

Franco não apela para o "cientista problemático cuja descoberta causou fogo e destruição à humanidade". Ele resiste o quanto pode até se desmanchar por um filhote de chimpanzé e por uma veterinária (Freida Pinto). No histórico recente de ficções científicas, é um dos poucos cuja culpa na consciência é maior que a vaidade.

A direção de Ruper Wyatt, do subestimado A escapada, precisou conciliar as "rachaduras" do roteiro e a mais avançada computação gráfica. O trabalho foi árduo ao que tudo indica, embora o resultado seja convincente. Todos os símios em cena (chimpanzés, orangotangos e gorilas) são "interpretados" por atores reais; suas performances foram fotografadas e digitalizadas, a exemplo do que aconteceu em King Kong  de Peter Jackson. Presentes em pelo menos 40% das sequências, os símios, mesmo "de mentirinha", em determinados momentos parecem mais à vontade em cena que muitos dos atores reais.

O final de Planeta dos macacos: A origem dá a deixa correta para que os não-iniciados (seja lá o que isso signifique) mergulhem nos outros filmes. Para iniciados, fãs e/ou defensores xiitas, a "prequel" faz referências meticulosamente calculadas aos outros filmes: nem tanto que o faça parecer ridículo, nem tão pouco que o faça parecer um filme completamente diferente dos demais. Se esse é um parâmetro confiável para classificarmos um "hit", certamente estamos diante de um.


fonte: Jornal do Brasil

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